1. |
sedimentos do tempo
08:10
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tudo o que quebrou vai se juntar nos sedimentos do tempo no ar
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2. |
palavra pra sempre
02:16
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dentro daquele instante a palavra pra sempre
foi-se junto com o rio mas surgiu novamente
fez-se calor que acendeu e tornou-se mais quente
foi a doçura da fala e a tormenta da mente
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3. |
o dia da festa
05:58
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eu não tenho vocação pra ser vaso de mesa
a cidade corre e atravanca sua pressa
e leva numa onda o coletivo das cabeças
se estende o muro que desabará na festa
o dia da festa virá
a soma dessa conta não responde a pergunta
a ordem dos fatores mais confunde do que ajuda
todo objetivo acaba numa vida puta
vai chegar o dia dessa sina vagabunda
o dia da festa virá
a cada passo em falso vai se chegando mais perto
cada erro se converte na resposta certa
e a cada dia desses tem mais um que se levanta
sai da frente que eu quero passar com a minha festa
o dia da festa virá
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4. |
celebrar a segunda-feira
03:06
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ela saiu antes de amanhecer
e eu acordei feliz só de saber
que mesmo ela estando ali e eu aqui vai existir
algo que nunca vai se dividir
ai que delícia que é me espreguiçar
sobre essa cama em que fui me deitar
junto com ela como eu quero estar a vida inteira
vou celebrar a segunda-feira
tomo um café quente e ele é teu
se você torce o pé torceu o meu
a raridade que pode existir num lugar comum
é porque a gente é como se fosse um
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5. |
noturna
04:38
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6. |
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nos sons da cidade se dilui a voz de um homem
civilizado bem-treinado maquinado e competente
ele vai veloz
do seu lado deus e o estado prontos pra atacar
ele está sempre na frente
ele quer ganhar
ele é todos e todos são ele
ou quase
mas o mundo não pára de girar
gordo e tatuado ou magro e de chapéu
pouco importa
dá no mesmo
ergue as mãos pro céu e se encanta com esse mundão
que não passa ali da porta da televisão
ele está sempre na frente
ele quer ganhar
ele é todos e todos são ele
ou quase
mas o mundo não pára de girar
cura o gosto amargo com cerveja quente
e nostalgia do seu tempo de adolescente revoltado
mesmo que agora ele não passe de um reaça como outro qualquer
ele está sempre na frente
ele quer ganhar
ele é todos e todos são ele
ou quase
mas o mundo não pára de girar
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7. |
beijo molhado
02:26
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junta aqui comigo que eu te quero do meu lado
eu tenho colo de amigo e o peito de namorado
minha paz é aqui contigo
de pijama e descabelado
eu tenho sede do teu cheiro e desse seu beijo molhado
e eu te quero todo dia
e tudo o que tua alegria cria
eu quero entrar pelo teu corpo boca
duas metades que habitam uma na outra
vem fazer meu mundo um lugar mais colorido
onde eu pertenço é cafungando aqui no pé do teu ouvido
o lugar onde eu me encontro é colado à tua pele
e hoje à noite estou esperando pra que ela se revele
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8. |
crise no problema
03:14
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encolheram o mundo
esconderam tudo
eu quero de volta o desconhecido
e a terra distante e inacessível
a coisa deu defeito
deu pau no sistema
crise no problema
da sua torneira hoje pinga calmante
pra balancear seu humor inconstante
a coisa deu defeito
engordaram o porco com meu sangue quente
da carne quem come recebe o veneno
doença de dentro estourando nos peito
a coisa deu defeito
ordem do inverso
passando um pano na conta que não fecha
o fim é o lugar onde o erro começa
a coisa deu defeito
blecaute na terra
sem sinal vermelho e sem sinal verde
é onde eu apareço morrendo de sede
a coisa deu defeito
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9. |
cultive a planta
07:29
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respire fundo
quadro a quadro a vida em meio segundo
cante comigo
só de olhar me dá um arrepio
me dá um arrepio
abrace o mundo
seja devagar num gole profundo
que coisa linda mergulhar
sair do vazio
sair do vazio
cultive a planta
traga pra varanda o prato da janta
celebre a língua
dia vai e a tarde caiu
e a tarde caiu
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Giancarlo Frabetti PA, Brazil
Instrumentista, compositor e produtor do ABC paulista, atualmente radicado em Belém do Pará.
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